quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Uma pitada de caril

Já não me bastava chegar a casa a tarde e a más horas com a escuridão à perna... depois de ter que dar as voltinhas básicas para a sobrevivência em casa ( coisas de sopeira que não vale a pena referir)… a gramar cerca de 1 hora de transportes públicos, mudanças de transporte, linhas , e blá blá blá… (por ai tudo bem… ossos do ofício). …agora para além disso enquanto me encostava o mais que podia para ver se dormia uma soneca durante vinte minutos SEGUIDINHOS… entra-me um Martim Moniz man e senta-se mesmo no banco da frente. Como um mal nunca vem só… veio outro atrás dele e sentararam-se os dois no banquinho da frente, com o ar mais sorridente do mundo.

Tudo poderia ter sido uma historinha da tanga… a diferença, vamos chamar assim, está no tempero…. Os senhores decidiram-se colocar “ à vontade” e toca a descalçar e por os pesinhos de fora a tresandar a chulé. Não contentes...ainda ligaram o belo rádio... e colocaram uma “ música” que posso jurar que pareciam rezas maradas!

Eu bem que me tentava abstrair, mas os “chulecas” faziam questão de me relembrar durante 20 minutos o cheiro a humanidade acentuado… e a música tipo reza, fazia com que os meus olhos se mantivessem em alerta ( pelo menos 1)… Não estava descansada…Nem por nada!!! Só não sai porta fora, porque estava atrasada e não me queria atrasar ainda mais. Azar o meu…

Olha-se para todo o lado no metropolitano…. e ah e tal… fumar é proibido( está anunciado em toda a parte, e acho muito bem apesar de fumar)….agora chulécas a tresandar e colocarem no rádio rezas tão alta que incomoda o pessoal todo…e isso tudo bem… é NORMALl!

Depois pensei, até que ponto as nossas liberdades individuais condicionam a colectiva…mandava-o calar a música se tivesse coragem, e calçar-se naquele preciso momento, mas ainda me chamava “ fascisóide” quanto o que está aqui em causa é no limite, uma questão de saúde pública ( o cheiro a chulé era impressionante…. E a música/reza estava a dar-me um ataque de nervos). Enfim… violinha no saco…. Chiu chiu calou…. Sugadita... antes que ficasse desfeita em caril!

Durante aqueles duros 20 minutos, pensei seriamente….que falta fazia aqui um porteiro de discoteca no metro de Lisboa. A característica deles é serem brutalmente honestos dentro do seu estilo…:
- Não entra!
-Mas porque?
- Porque não gosto de si! / porque não tem convite da casa/ ou então ficava com um olhar reprovador da ponta do cabelo a ponta dos pés… como quem diz, queres que te responda???

E de vez em quando, lá levam uma belinha ou um facada de alguém que se revoltou com o que os Senhores da porta da disco disseram… mas a verdade é que eles tem coragem de “rejeitar” na cara e com a maior lata do mundo quem lhes aparece à frente e não lhes desperta “ simpatia”. A coragem que eu não tive… nem ninguém por aqueles lados!

Então o que seria feito se o metro de Lisboa tivesse à porta um cavalão a fazer a triagem? O que seria feito dos “chulecas”? Aos bimbos? A toda a sovaqueira matinal colectiva? Ao AXE a potes? Ao perfume suburbano? Á roupa que faz encadear a vista logo pela manhã??

É nítido que se utilizassem uma terça parte do “rigor” que utilizam nas discotecas mais badaladas de Lisboa... não estaríamos nada mal… É nítido os cavalões estão no sítio errado… ou então, estão no sitio certo mas em falta noutros igualmente importantes.

Mas pronto... já tive a minha quota parte de castigo diário... a pimentinha na língua está esquecida... lanço-vos uma pitada de caril, para não perder o gosto.

2 comentários:

Bottled (em português, Botelho) disse...

Cara vizinha,

Pelo menos não lhe aconteceu como no outro dia em que um tipo, com o Metro em andamento e na maior descontracção, aproxima-se da porta e vai de escarrar para o chão, junto à mesma, uma coisa que eu era capaz de estar viva e não dava para perceber o que era.

Foi de tal forma que, apesar de ele se ter ido embora todo contente da vida, uma senhora que se encontrava na outra porta deitou a mão à boca, completamente enojada, e teve de ir para outro lugar.

E o que é que se faz nestes casos?

Ah, e este tipo não era nem caril, nem baril! Mas lá que tinha um mau aspecto tremendo, isso era inegável, tal como inenarrável.

Hic Hic Hurra

João Morgado disse...

Bem, e pode-se dizer que tiveste sorte...
Eu já apanhei uns 'chungas' no comboio da linha de Cascais no último comboio que decidiram assustar-me à grande.
Facas não faltaram... e no fim ainda gozaram comigo...sentaram-se nos bancos à minha volta (nesse momento eu entrei em paragem cardíaca) e disseram com uma cara de gozo:

Sócio, tranquilo... a malta não te quer fazer mal... pelo menos hoje....

Já foste ao mercado 'subterrâneo' do Martim Moniz? Isso sim, são rezas que até metem medo... parece que entraste num campo de refugiados da Palestina!

Sabes o que seria mesmo engraçado?
Chegares a casa e o teu marido/namorado/companheiro ter preparado um jantar baseado em caril!

Em tom de brincadeira, deixo-te aqui uma referência musical que gosto bastante:
Nitin Sawhney & Reena Bhardwaj - Nadia

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João