terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Os Cromos da Bola

No outro dia vi na televisão que uma equipa de futebol para aí da segunda B criou em homenagem à sua equipa uma colecção de cromos… o mais extraordinário é que não só a aceitação foi boa, como conseguiu esgotar os pacotitos em todos os quiosques da zona e papelarias da vila.

A equipa não é das mais conhecidas, jamais poderá competir com uma das grandes… jamais terá o merchandasing fantástico com direito a pijamas, canecas, peluches, canetas, t-shits, calções e coisas tão fantásticas (como inúteis) como terá um grande clube Português ou Estrangeiro.

Trata-se de cromos, a um preço simbólico ( para aí de 40 cêntimos) como os seus jogadores, não tão metrosexuais como os outros, sem Porches, sem Ferraris, nem com ordenados chorudos! Se calhar estes jogadores numa terão uma calças dolce gabanna ou terão malas de viagem pomposas. Se calhar nunca terão tratamentos de beleza ou acesso a clínicas fantásticas que os reciclam quando dão um espalho estrondoso no meio do campo. Se calhar nunca saíram de Portugal, nem sabem falar “ estrangeiro”.
Estes jogadores vestem o equipamento lavado à mão por uma senhora que tem nome, que tem uma identidade e poupam-no religiosamente porque sabem que se calhar o clube não terá dinheiro para outros mais.

Os putos lá na escola trocam “os seus” cromos por bolos, aprendem os nomes do jogadores que não sabiam, e lá na vila tornam-se amados e heróicos.
Todos sonham em ter a caderneta completa, vão ao quiosque da Dona Joaquina comprar os pacotinhos de cromos com a esperança de aparecer o cromo 24 e o 79 que lhes falta. Tentar imaginar que dentro do pacotinho lá estarão os cromos que faltam.
E mesmo que não apareçam, não perdem a esperança e gastam os seus 2 Euros suados de semanada… nos seus amados pacotes de cromos.


Achei verdadeiramente uma homenagem simpática áqueles jogadores e áquele clube.. numa altura em que quase já não há “heróis” palpáveis, onde um herói é quase por sinónimo um ser animado ou alguém de um passado longínquo ou também de alguém que só se viu na televisão….

Estes heróis são gente da sua terra, e são protegidos e valorizados pelos seus.
Caminham pelas tascas, vão à mercearia cumprimentam as pessoas pelos nomes, e dão um verdadeiro valor aos míudos por serem seus grandes fãns.

E por vezes, são nestas terras com gente simples, com jogadores simplórios e com poucos conhecimentos técnicos e pouquíssima experiência (mas com apoiantes altamente motivados) que saem grandes equipas ( os “ David’s”). Podem muitas vezes perder, ás vezes até por tantos pontos que até dá pena… mas as vitórias são sempre festejadas com orgulho, com direito a leitão assado e com tintol da região.
Une-se um povo, junta-se uma vila… e os cromos servem para os imortalizar.

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