A minha geração foi enganada. Crescemos na ilusão de que se
estudássemos muito e fossemos para a universidade tínhamos a vidinha
feita e um futuro sem problemas de maior. Crescemos a ver os nossos pais
com o mesmo emprego durante anos e este era para toda a vida. O
dinheiro caía certo todos os meses. O futuro era sempre visto com
optimismo e prosperidade. Foi a geração da entrada de Portugal na CEE,
das auto-estradas, do abandono da agricultura, ou pelo menos do desprezo
por esta. Pensava-se que os 10 anos seguintes seriam sempre melhores do
que os actuais. E as pessoas tinham fé, ou confiança cega, de que o
futuro ia ser melhor para os filhos do que foi para eles. A minha
geração foi pós 25 de Abril e tomámos tudo por garantido e o céu
parecia-nos o limite.
E assim, do nada, 70% da população tinha “ casa
própria”, os empréstimos a 25 anos ao banco tornaram-se parte da cultura
portuguesa. Ter casa era, acima de tudo, obrigatório para qualquer
palminho de gente. Esse passou, para nós, a ser o rumo natural das
coisas, porque foi o que os nossos pais tinham feito também. Depois do
crédito à habitação, foram os cartões de crédito e a lenga lenga do
dinheiro à mão e acessível. E de repente, achámos que éramos todos
ricos. Por isso, como país rico que pensávamos ser, desvalorizou-se o
ensino técnico e os ofícios. Achava-se que esse tipo de profissões eram
menores e que estávamos a pensar pequenino. Mecânicos? Eletricistas?
Carpinteiros? Nada disso! Essas profissões eram socialmente pouco
consideradas, ao contrário do que acontece com países mais
desenvolvidos. E assim, as escolas técnicas transformaram-se em liceus,
porque achava-se que o país precisava era de doutores. Muitos doutores!
Assim, naturalmente, muitos de nós chegámos ao 12º e
sabíamos que o caminho óbvio era ir para a universidade e estudar para
ser “ alguém”, isto é, ter um canudo debaixo do braço. Pensava-se que a
emigração era para a geração "mala de cartão" ou da “Mãe querida”, ou
seja, para as tais profissões “menores” mas nunca para os “doutores”.
Enquanto olhávamos por cima do ombro para esses trabalhos, outros países
como a Alemanha, iam crescendo e desenvolvendo-se, não só à conta das
profissões de colarinho branco mas também e sobretudo com os ditos
trabalhos “menores”.
O nosso país ia mudando e encontrar emprego para nós
já não era tão fácil como tinha sido para os nossos pais. Contudo,
ainda se encontrava alguma coisita, nem que fosse trabalho a 600 euros. E
aí nasceu a geração dos call-centres porque não havia já emprego para
tantos “doutores”. De ano para ano, começou a complicar e quem saía das
universidades tinha cada vez menos oportunidades de emprego, dentro ou
fora da área em que se tinha formado.
As gerações posteriores à minha, que agora
terminaram a universidade, ou os que estão à procura de emprego, têm uma
realidade sombria e que não se vislumbra uma solução. Nesta Sexta-feira
então, perdi a minha fé. Muitos dos jovens não têm emprego e quem tem,
tem medo de o perder e vive-se angustiado com isso. Os nossos pais, hoje
reformados, vivem com menos dois salários do que antes. A emigração é
mais vista como uma saída e talvez a única possível neste momento para
quem tem uma mão cheia de nada. Ter filhos, então é visto com uma
loucura, nesta sociedade tão instável e tão doente e a natalidade está
mais baixa do que nunca.
Um país bafejado por tanta beleza, bom clima, boas gentes, heróis do passado, vai acabar assim? E agora Portugal?
3 comentários:
E agora Portugal? Amo-te muito minha nação mas o Amor deve ser recíproco e eu estou a ficar cansada de tanta pancada....
Isto é violência doméstica Tata. É como aqueles maridos que dão pancada na mulher até a deixar toda negra e depois juram que as amam. Assim é Portugal.
Os empréstimos a (25?!) 40 anos ao banco tornaram-se parte da cultura portuguesa… bem como:
- ter uma carrinha ou monovolume assim que se tem um filho,
- as férias em destinos tropicais (alguem que ainda não foi ao Brasil?!?!?! Não acredito),
- a escapadinha de inverno à neve…
melhor ainda? Férias “pagas” a crédito :)
e agora Portugal?
Condições de emprego precárias: é difícil a alguém saído da universidade encontrar emprego… o conceito de bom emprego então alterou radicalmente nos últimos anos! Hoje se fizerem contrato sem prazo já e um bom emprego… bom salário? Talvez o bruto… o que chega a nós após retenções é anedótico.
Por cá, sem condições para poderem ganhar a sua independência e sair da casa dos pais, não vejo como vamos aumentar as taxas de natalidade…
Com a fuga que (prevejo agravar) de gente com talento /valor/garra e formação reconhecida, quem esperam estes srs que fique a pagar os impostos loucos que existem para sustentar o resto da populaça e os negócios ruinosos dos “amigos”.
A coisa está preta… e eu estou deprê
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