segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Os Ídolos

O meu maior sonho em criança era cantar bem! Mas pronto há muitos anos que fui informada que não cantava assim tão bem quanto pensava e que basicamente era mais fácil ir à lua do que algum dia ser cantora e ganhar o festival da canção.

Há uns anos atrás o Festival da Canção era algo muito sério. O país parava completamente para ver o festival e as pessoas vibravam totalmente com isso. Eu lembro-me de cantar vezes sem conta as músicas do festival com as minhas amigas na escola ( " Já fui ao Brasil, Praia e Bissau, Angola, Moçambique..." blá blá blá) e de todos os miúdos e pessoas mais velhas saberem de cor as várias letras dos vários festivais.

Hoje em dia o Festival da Canção está como o concurso da Miss Portugal totalmente fora de moda, com Miss chamadas de Sónias Carinas ou Micaelas Sofias. O Festival morreu talvez a partir do momento em que surgiram mais dois canais televisão portuguesa e se passou a dar importância a outros formatos como o Chuva de Estrelas e por aí por diante.Hoje dia todos os formatos estão praticamente esgotados, porque ouvir cantar bem é uma seca, um cliché completo e por isso, pelo factor surpresa o Ídolos tem o seu mérito.

Cada vez que vejo o ídolos pergunto-me se aquela gente não tem amigos, não tem pais que lhe digam... " tu não sabes cantar puto" porque assim dispensavam este tipo de comentários do júri, que pelos vistos são os únicos a dizer a verdade.

A propósito da sinceridade, isso faz-me lembrar a minha prof. de inglês que tinha um olho para cada lado, fez uma operação para corrigir aquilo há uns mesitos e a filha durante 28 anos jurou a pés juntos que nunca se tinha apercebido! Como não??!! A sinceridade é chata, bem sei, e por isso pais mentem com todos os dentinhos que tem na boca relativamente ás faculdade do rebento até que há um ponto em que a mentira se começa a entranhar no sangue e parece tornar-se como verdade. Não tenho dúvidas que quando aqueles pais dizem " o meu filho vai ser o próximo Ídolo de Portugal" é porque acreditam piamente nisso.

E foi de chorar a rir ver tantos cromos no programa que se sujeitam a ir a ali, estarem horas infinitas na fila à espera de serem chamados e consequentemente ainda terem a possibilidade de abandonar a loucura, virarem as costas e ir para casa comer torradas ... mas não, ficam ali, até à última, à espera da sua vez de serem humilhados. A Sic sabe bem que o que vai dar audiência ao programa não é ver gente a cantar bem, mas antes pelo contrário ver gente a cantar mal e ter tido a lata de ter ido ali, ou então, possivelmente uma virgem de 50 anos, com ar de totó a cantar um clássico dos "Les Miserable".

Numa altura em que tanto se ouviu falar em asfixia democrática, aqui temos a prova como a SIC não compactua com esse alinhamento e jamais irá calar os rouxinóis e não só... por esse Portugal fora.

Quem vai ser o Ídolo? Mas isso interessa??!! Quando acabar os castings, para mim, fechou-se o pano.

3 comentários:

João J. disse...

Realmente o mais interessante desse programa é ver aqueles palermas que alguém lhes disse na brincadeira que até sabiam cantar alguma coisa.. e acreditaram... tal como já vi hoje noutro comentário... "tanta gente e tenho tão poucas balas..." hahaha

Unknown disse...

Para mim também se fechará o pano quando deixar de ver aqueles cromos...a cantar?...a fazerem figuras tristes!

beijinhos

fd disse...

Acredito que parte dos pais "mintam" aos filhos, até certas idades, como forma de incentivo, de mostrarem ao filhos que acreditam/gostam deles, independentemente das habilidades que sabem fazer. Mas sim, o mundo continua lá fora, e normalmente é cruel, e um pré-aviso também entra noutra competência dos pais, a de protecção. Outros, como dizes, enganam-se a si próprios e os filhos.

E nem tudo o que se faz, seja cantar, tocar ou jogar tem que ser ao nível de competição. Tudo isso se pode fazer por prazer e para aprender, como estar aqui a ler e escrever.

Concordo que cada um deve ter percepção do seu real valor. Porque as mentiras crescem, as expectativas também e as desilusões aí são maiores.

Pois, e a SIC sabe que as audiências vêm das emoções e essas aparecem mais facilmente nas histórias de desgraça ou ascensão dos concorrentes do que nos respectivos talentos vocais.