quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Os Ingleses e os postais

Se há negócio que está sempre em altas em Inglaterra é o negócio dos postais. Isso era algo que não fazia a mínima ideia até ter vindo viver para cá e me ter apercebido que brota como as lojas dos chineses em Portugal.

Não há vão de escada que não venda postais e estes, muito mais do que um rectângulo de cartão em si, com umas imagens e com uma mensagem mais ou menos pirosa ou padronizada, vêm colmatar um erro de fabrico tipicamente inglês que é o problema que têm em lidar com as emoções e demonstrar os sentimentos. Este negócio movimenta milhões porque não é sazonal, não se resume aos aniversários, Natal ou fim de ano, mas o motivo do sucesso é que evita o contacto directo com as pessoas. Os postais já com mensagem escritas então são o delírio, paga-se uns cêntimos( a partir de 30 cêntimos já se compram postais giros!) e em troca há uma mensagem já escrita em que pode-se só assinar e está prontinho a ser enviado. Simples, não? Um simples postal tem a dupla função de evitar o constrangimento de demonstrar fisicamente afecto e por outro lado, mostra consideração pela pessoa para a qual se manda um postal, nem que seja, porque alguém se deu ao trabalho de o comprar, escrever umas palavras e o enviar.

Todos os anos por volta do Natal a minha caixa de correio é invadida por postais a desejar um feliz Natal pela vizinhança. Isto tudo pareceria fofinho e extremamente civilizado, mas falta-me mencionar que os postais são postos no correio quando estamos em casa, com as luzes acesas e com o carro à porta. O toca e foge é um jogo que os adultos por aqui se divertem muito por altura do Natal. Posso jurar a pés juntos que após um postal cair na caixa de correio, três segundos depois não se vê ninguém à porta.Em vez de desejarem um bom Natal quando nos cruzamos na rua, ou pronto, na loucura, virem aqui desejar um bom Natal pessoalmente, mandam postais.

A minha vizinha do lado, que vive aqui a 2 metros ( entenda-se!) convidou-nos para o aniversário dos 40 anos por postal, nós não pudemos ir e enviámos um agradecimento por postal também, ora não fosse a senhora achar que éramos uns mal educados caso aparecessemos na porta de casa a agradecer o convite e a decliná-lo. E se tudo isto me parecia estranho e bizarro ao longo do tempo foi-se entranhando e inglesei-me... E bem, se a medição da nossa popularidade aqui no bairro se medir pelos postais recebidos, não estamos mal.

2 comentários:

jol8485 disse...

Então manda uns aqui para Portugal!

Rabodesaia disse...

Ando a falhar, a ver se mando um postal para os lados de Carnaxide no Natal.