sexta-feira, 20 de abril de 2007
Afinal aprender compensa ou não compensa?
Os objectivos da campanha do governo “ Novas Oportunidades” são fazer do 12º ano o referencial mínimo de formação para todos os jovens, colocar metade dos jovens do ensino secundário em cursos tecnológicos e profissionais e qualificar um milhão de activos até 2010.
O motivo desta iniciativa segundo a campanha é para que haja mais crescimento económico, mais desenvolvimento e coesão social: melhores salários, mais empregos, menos desemprego, mais cidadania.
Como síntese de principais medidas pretendem aumentar a oferta de formação profissionalizante, assegurar uma gestão territorial integrada dos cursos e na rede de operadores privados, criar um sistema integrado de informação e orientação escolar e profissional, rever as estruturas curriculares e articular as cargas horárias entre as diferentes ofertas, desenvolver sistema de avaliação de qualidade.
Ontem o Bloco de esquerda lançou uma campanha que tem o mote “ a qualificação com emprego” com cartazes onde se poderá ver uma licenciada a trabalhar num restaurante. O partido acusa o governo de não se preocupar com o desemprego dos qualificados e lança campanha de resposta às “ Novas Oportunidades”.
Se na campanha do Governo, Judite de Sousa que não estuda acaba a vender jornais em quiosques e o Carlos Queirós a aparar a relva dos estádios, o bloco utiliza a campanha do Governo e cria uma “ contra- campanha” onde mostra como é o destino de muitos jovens que terminam os estudos e onde aliás a taxa de desemprego de jovens licenciados está muito acima da média Europeia: ACABA POR SERVIR Á MESA.
É que se a campanha do governo prima pelo optimismo (se calhar exagerado,talvez) com a tónica na qualificação profissional e no consequente melhoramento no país, em que a mensagem que passa é que se nos qualificarmos poderemos ser “ melhores”, por outro lado a campanha do BE prima pelo negativismo e aqui divido-me entre o sensacionalismo e o realismo da mesma, em que a mensagem que passa é mais ou menos isto: “ faças o que fizeres, não vale de nada estudares porque acabas num café a trabalhar... como aquela que está ali no cartaz!" Não lhes retiro contudo o mérito do cartaz que acho que está aliás muito bem conseguido. Mete bem o dedo na ferida... mas na perna ao lado da que se está a tentar curar.
É que se de um lado estamos a falar de qualificação profissional e de subida da taxa de escolaridade obrigatória e do aumento de cursos profissionais, do outro lado o BE aproveita a boleia e põe aqui o Ensino Superior à mistura (onde têm de longe os seus maiores apoiantes). É claro que cada um puxa a brasa a sua sardinha.
É que se o BE não deixa de ter razão e realmente o desemprego no meio dos licenciados é preocupante, por outro lado se pensarmos que nos licenciamos e que acabamos num café a servir á mesa...então o caminho é o que? Tocar djambés e fumar charros o dia todo?
Há um longo caminho a percorrer até representam a maior parte da população. E ainda que a campanha do governo seja irrealista, ainda que não se consiga chegar aos objectivos talhados para 2010, alguma coisa tem que ser feita. Ou será que não?
E ainda que dos cursos profissionais não nasçam todos os dias “ Judites de Sousas” ou “ Carlos Queirós” … tenho a ingenuidade de pensar que aprender compensa e que de duas escolhas o caminho mais difícil é sempre o que me trará mais vantagens.
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8 comentários:
Cara Senhora Engenheira,
Para mim o caminho era vínico, mas quem sou eu...
Agora a sério, o problema destas coisas é sempre a dificuldade em encontrarmos um meio-termo.
Estou completamente de acordo quando diz que aprender compensa.
Sempre fui um acérrimo defensor da literacia e acho que qualquer país moderno necessita de ter uma população esclarecida (leia-se, pensadora, inteligente, participativa) pois de outra forma arrisca-se a não conseguir os níveis de desenvolvimento necessários a ombrear na cada vez mais exigente evolução das nações.
Mas é bom, também, que não esqueçamos que a mudança a este nível, importantíssimas, implica uma maior capacidade de absorção, por parte do mercado de trabalho, dos jovens licenciados, em termos de acompanhamento e adaptação integrada às novas funções e realidades, que eu acho que, muito francamente, não tem existido.
E, assim sendo, temo que a exagerada propaganda bloquista desemboque numa triste realidade do futuro, caso os níveis de desemprego continuem a aumentar e o investimento empresarial no nosso país, pelo contrário, a diminuir, ao que acresce o encerramento, devido a dificuldades económicas, da maior parte do tecido empresarial nacional.
Ainda assim, de uma coisa tenho a certeza: aprender compensa sempre.
Como dizia um bom e velho amigo: eu insisto em ensinar música aos meus filhos porque não sei o dia de amanhã. E, nem que seja a tocar à porta de uma estação do Metro, pelo menos eles ficam com uma arma que lhes poderá permitir o auto-sustento.
Hic Hic Hurra
Caro Engenheiro,
Agradeço a sua participação sempre tão activa no meu modesto blog!
Concordo inteiramente que a nossa sociedade necessita de mais literacia! Não estamos já tanto no nível do analfabetismo, mas o que adianta ler-se um texto e não se perceber puto do que está lá escrito! "sabe ler", e então??
é necessário mais investimento, para que os nossos padrões de qualidade comecem também a melhorar pelas bases.
O desemprego até poderá aumentar, mas não será um efeito dessa "formação". E um desempregado qualificado está sempre com um margem de vantagem... aqui ou noutro sitio qualquer.
Exma. Senhora Engenheira,
Obrigado por me dar a conhecer a contra-propaganda do Bloco de Esquerda, que não conhecia.
Como jé devem ter percebido, não posso com os larilóides do BE, mas tenho que reconhecer que a campanha tá altamente e tem razão na mensagem que veícula.
Mas e a Ana Paula se tivesse licenciado na UNI o caso mudaria de figura...
Exacto caríssimo engenheiro,
se a Ana Paula tivesse tirado a licenciatura na UNI... provavelmente teria um futuro promissor ou como secretária de Estado, Ministra ou como 1º Ministra.
Cara Senhor Engenheira,
Peço desculpa por não me ter explicado bem no meu primeiro comentário: referia-me à chamada literacia de informação.
Quanto ao desempregado com qualificações, se é verdade que se encontra potencialmente mais apto a deixar de o ser, enquanto o é temo que fique mentalmente perturbado por ter suado as estopinhas a estudar e, depois, não conseguir encontrar uma saída profissional no mercado de trabalho para exercer, bem ou mal, errando e aprendendo com os erros ou não, uma profissão para a qual tanto tempo gastou da sua vida a preparar-se.
Quanto ao resto, por favor não agradeça... eu, por vezes, temo é que a minha assiduidade comentadora, fruto da minha irresponsabilidade e irreverência sempre que me encontro ao volante do meu teclado ergonómico com duplo air bag, vidros retrovisores de espelho duplo, teclas de liga leve, rádio com leitor de CD e MP3 e mija-mija/limpa-pinguinhas, esteja a ser encarada como um abuso, tanto mais que tenho tendências vínicas.
Se assim o for, peço imediatamente desculpa e coloco a Senhora Eng.ª à vontade para colocar o travão nesta mão que embala as teclas, prometendo eu, desde já, que cumprirei escrupulosamente a S. vontade, transformando-me num visitante assíduo/comentador ausente, pois que prezo ler os S. textos.
Respeitosos cumprimentos.
Hic Hic Hurra
Parece-me bem que se invista em formação e como escolaridade minima o 12º ano, a caminho é pela aprendizagem sem dúvida...Agora ponho-me do outro lado, passei a vida a estudar para no fim ter de me adapatar ao que o mercado de trabalho tinha para oferecer...e continuei a estudar com o objectivo de conseguir algo melhor...no fim não ganhei nada, continuo no mesmo sitio e todos os meses quando olho para o recibo de vencimento riu para não chorar...
Não há dúvida que o BE criou uma contra campanha engraçada.. mas para variar estão sempre a exagerar.. O BE é daqueles partidos, que se fossem governo (Deus nos livre), estariam contra eles próprios (até fumarem umas ganzas, e aí estaria tuuuudo beeeemmmmm). A verdade é que hoje em dia arranjar emprego é complicado, e muitos cursos.. são apenas cursos... E muito sinceramente, se durante algum tempo, um licenciado fizer um trabalho "menor" só o poderá ajudar (falo por experiência própria). Agora ficar parado é que não... Como se costuma dizer "Parar é morrer".
Sinceramente acho esta campanha inusitada, vergonhosa e mal feita, isto para não estar aqui a utilizar linguagem vernácula.. "este é o Carlos ou Maria que não seguiram os estudos" e pergunto: e então? Que tem a mais um professor catedrático ou um 1º Ministro bacharel face a uma pessoa com o 9ºano ou com o 12º? Serão mais dignos os que estudam? Mais inteligentes? É curioso perceber duas coisas no meio disto tudo. 1º uma vez mais a estupidez portuguesa, fez com que à imagem do caso "UnI gate", se continue a atribuir uma importância exessiva aos titulos e não às competências reais das pessoas ( o que prova a nossa ignorância face aos melhores como são o exemplo dos EUA, onde qualquer bom funcionário pode chegar ao top, desde que tenha capacidades para tal - já agora, o man que era da Microsolft e que está agora na PT, creio que também não tem curso superior...).Em 2º lugar é bom saber que mais de metade dos lideres do tecido empresarial português, não têm formação académica; mas dirão, por isso é que temos os tipos de patrões e as más práticas entre nós; o que também tem o seu fundo de verdade, o que não invalida o inverso, ou seja, pessoas sem estudos ou que não os tenham concluído, que tenham sido ou que ainda hoje sejam, empresários de sucesso e com isto dou 2 exemplos: o primeiro do incontornavel Sousa Cintra e o segundo de António Champalimaud, que não tendo concluído os seus estudos, em vida amealhou um património que metia o Sr. Sonae a um cantinho na lista da Forbes... Enfim, querem mais doutores para quê? Não temos massa empresarial para os acolher, ou então a estratégia passará por continuarmos a investir nos nossos recursos, para depois eles irem parar ao Mercado europeu e americano...o melhor é nem falarmos nisto...
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