segunda-feira, 4 de junho de 2007

Síndroma da Menina Bonita Desaparecida




Ela chamava-se Kenji Ohmi era de origem japonesa e desapareceu, uma manhã da residência universitária de wisconsin e nunca mais foi vista. Era uma rapariga envergonhada, óculos muito graduados, pouco popular. Nenhum jornal deu atenção ao caso, e passado uns meses foi encontrado o seu corpo num lago.

Na mesma altura, precisamente na mesma universidade, uma rapariga linda de seu nome Andrew Seiler, daquelas miúdas que poderiam ser candidatas à miúda mais popular da universidade, loura e vistosa desapareceu também e á sua volta ergueu-se uma onda de solidariedade imensa, com direito a toda a atenção mediática, de jornais, programas televisivos ao estilo de Oprah Winfrey , revistas e rádios.

Todos falavam da rapariga desaparecida, todos especulavam sobre o que lhe poderia ter acontecido. Ao contrário de Kenji, Andrew apareceu passado alguns meses… e confessou que tinha ela própria fingido um rapto.

O que é que se passa? Então com que linhas se cose a tão chamada solidariedade?
Porque é que há casos que têm atenção dos media, e outros que não? Porque é que há casos que provocam histeria mediática e outros que não? A que se deve esta assimetria de informação?

Reportando ao caso da Madeleine…. Há uma crueldade, uma espécie de discriminação positiva à volta de si!( esperemos que ao menos seja benéfica!) Na mesma altura que Madeleine, desapareceram 800 crianças em todo o mundo e quem ouviu falar delas? Não que o caso da Madeleine não seja merecido de toda a nossa atenção, mas há sem dúvida uma agitação fora do normal à volta da menina, que ultrapassou fronteiras, que consegui angariar milhares de donativos de famosos como da J K Rowling ( autora do Harry Potter), Ricard Brason, entre muitos outros .. futebolistas, empresários famosos… e porque não conseguiram os outros desaparecidos tanta “solidariedade”, a mesma que comoveu a opinião pública?

Há uma realidade crua que se imagina por trás de tudo isto… Madeleine é bonita, lourinha, olhos azuis grandes como berlindes, com um sorriso cativante, inglesa, a personificação de um anjo, da beleza e da inocência que fazem como que comova mais as pessoas. Este fenónemo é chamado pelos especialistas de : “ Síndroma da Menina Bonita desaparecida”.

Chocante? Há teorias que defendem que há uma escala de noticiabilidade, que nos ajudam a perceber o fenónemo. Há certos ingredientes que fazem com que se conquiste a atenção dos media, que pouco tem a ver com a tragédia em si, mas com quem está envolvido nela. E isso explica porque a atenção se vira mais para uns casos e explica outros. A beleza é um dos ingredientes e a nacionalidade é outra. As linhas da tragédia são cosidas com uma linha de nylon inconsciente e como se uns tivessem mais direito do que outros.

A mesma sociedade “solidária “ choca-se quando um filme bonito, com uma bonita protagonista , é lhe furtada a possibilidade de um final de filme ainda mais bonito e perfeito. Há teorias que defendem que um cidadão americano vale 10 vezes mais do que um árabes, cem vezes mais do que um chinês e mil vezes mais do que um africano numa situação idêntica de mortos numa catátrofe. Que por exemplo as meninas louras têm sempre mais protagonismo em comparação com os morenos, meninos, homens mais velhos, negros ou latinos.....

E o pior, e o mais chocante, é que somos nós próprios que seleccionamos e escolhemos, que damos a mão ou a rejeitamos, que nos fazemos “juízes” com uma escala inconsciente do drama. Que rejeitamos ou nos comovemos....

Se todos somos iguais, então não haverá uns mais iguais que outros?
Uma questão a reflectir!


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PS:ver http://www.policiajudiciaria.pt/htm/pessoas.htm

3 comentários:

Bottled (em português, Botelho) disse...

Cara Engenheira,

Deixo a explicação para os sociólogos, psicólogos, criminalistas, enfim... para os peritos.

Da minha parte apenas sublinho a verdade que se revela em cada linha do S. post e que nos deveria fazer, colectivamente, ter vergonha deste tipo de sentimentos, que nos fazem valorizar uns em detrimento de outros através de critérios absurdos.

E já que não somos todos fisicamente iguais, ao menos que tenhamos a consciência de que todos somos feitos de carne e osso e todos merecemos que nos respeitem, na nossa natural ânsia pela felicidade, tal como somos.

Pegando no título, acho que a humanidade tem de pensar seriamente em combater um outro mal: Síndroma do Preconceito!

Hic Hic Hurra

Rabodesaia disse...

Tem toda a razão Engenheiro Zé!

Desta vez não foi a minha versão de pseudo-engenheira a pensar, mas a versão de licenciada em sociologia ( que o sou de facto... de socióloga, não, porque não exerço).

Talvez me tenha captado ainda mais a atenção precisamente pela veia de sociólogia que ainda me corre nas veias.

Durante o fim-de-semana li alguns artigos que falavam sobre este caso da Madeleine (que jornal não falava?), televisão e tal, mas prendi-me num que apareceu no Público este Domigo onde saltava à vista esta realidade crua.

é vergonhoso sem dúvida, e é vergonhosamente real.

João J. disse...

Efectivamente, muitas outras crianças desaparecem todos os dias, e no entanto nem se fala delas. O porquê de todo este falatório acerca de apenas uma criança. Desde o início tenho achado que isto não passa de mais uma história mal contada e todo o mediatismo que adquiriu tem sido excessivo. Infelizmente, passado mais de um mês depois do desaparecimento, não acredito que seja encontrada, e se junte a uma lista de muitas outras crianças na mesma situação.

Agora... realmente este tipo de comportamento humano em ignorar os menos favorecidos (quer de aparência, religião, raça) faz-me quase acreditar que existe, quanto mais não seja, um neurónio nazi em cada um de nós.